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SalĆ”rio e economia da experiĆŖncia

VocĆŖ jĆ” se perguntou alguma vez se Ć© melhor ter um bom salĆ”rio ou qualidade de vida? Caso jĆ” tenha, vocĆŖ conheceu um dos mitos mais famosos do gerenciamento. Isto porque uma atividade nĆ£o exclui a outra, de fato talvez o equilĆ­brio entre vida social e profissional seja um dos grandes fatores de sucesso na carreira, e talvez vocĆŖ atĆ© jĆ” tenha lido sobre isso, mas aposto que vocĆŖ nunca leu uma explicaĆ§Ć£o econĆ“mica sobre a importĆ¢ncia desse equilĆ­brio.


Nossa forma de gestĆ£o tem evoluĆ­do ao longo dos anos, no passado Ć©ramos baseados

na atividade artesanal, quanto mais produzƭamos, mais ganhƔvamos, precisƔvamos garantir o fornecimento, e para garantir o fornecimento passƔvamos a controlar o tempo que gastƔvamos produzindo e o tempo que gastƔvamos vendendo.

EvoluĆ­mos para um serviƧo de manufatura, o conhecimento para a produĆ§Ć£o de um bem jĆ” estava mais difundido, jĆ” havia certa especializaĆ§Ć£o, a indĆŗstria focava basicamente na criaĆ§Ć£o de bens, e a principal premissa da gestĆ£o era, portanto, a de controlar custos.


Passamos entĆ£o a uma economia focada em maquinofatura, basicamente a especializaĆ§Ć£o do serviƧo humano em classes especĆ­ficas de trabalho, onde cada um era responsĆ”vel por uma pequena parte do todo, aqui nos importĆ”vamos com o serviƧo prestado, e nosso foco era garantir a qualidade daquele serviƧo. Fordismo Ć© um Ć³timo exemplo disso.


Embora jĆ” tenhamos passado por esses sistemas de produĆ§Ć£o, as raĆ­zes dessa gestĆ£o ainda perduram em muitas organizaƧƵes, variando conforme a maturidade do negĆ³cio, afinal Ć© um processo quase que natural de evoluĆ§Ć£o da nossa produĆ§Ć£o. Por isso algumas empresas ainda querem controlar o tempo que o funcionĆ”rio gasta em cada tarefa, outras mantem uma folha de pagamentos de funcionĆ”rios juniores buscando reduzir custos, e outras buscam supervisionar cada trabalho que Ć© gerado a fim de garantir a qualidade.


Veja bem, isso nĆ£o quer dizer que nĆ£o devemos controlar tempo, custo e qualidade, pelo contrĆ”rio, sĆ£o parĆ¢metros fundamentais em qualquer projeto, mas serĆ” que direcionar a gestĆ£o de pessoas para esse fim traz resultado?


Segundo Joseph Pine autor de ā€œA economia da experiĆŖnciaā€, nĆ³s estamos vivendo uma transformaĆ§Ć£o da indĆŗstria, observando-a se tornar cada vez mais digitalizada, e o que Ć© devemos gerir na Ć©poca da economia digital? Segundo o autor nosso foco deve ser na experiĆŖncia, e devemos gerir o quanto somos capazes de criar essa experiĆŖncia. Por isso tantas empresas falam de ExperiĆŖncia do Consumidor e ExperiĆŖncia do FuncionĆ”rio. No fim das contas, nĆ£o Ć© possĆ­vel criar a primeira se a segunda nĆ£o existe.


Imagine se um funcionĆ”rio estressado, desmotivado e pressionado vai se preocupar em cativar o cliente, criar uma experiĆŖncia com ele, gerar um ā€œmomento uowā€, simplesmente nĆ£o ocorre.

Dentro do Management 3.0 - uma das diversas prĆ”ticas de agilidade organizacional que temos - aprendemos e utilizamos vĆ”rias tĆ©cnicas para conseguir motivar o time, tĆ©cnicas que vĆ£o desde entender os ā€œmotivadores que te movemā€, dias de exploraĆ§Ć£o, mapas pessoais e quadros de celebraĆ§Ć£o, tudo para criar um ambiente saudĆ”vel e estimulante, fazendo bem Ć  equipe para que a equipe faƧa bem ao cliente.

A ideia por trĆ”s dessa prĆ”tica Ć© oferecer um trabalho significativo, com propĆ³sito. Estudos, como o de Shawn Anchor e Andrew Reece para a Harvard Business Review de 2018 indicam que 9 entre cada 10 trabalhadores aceitariam receber menos para realizar trabalhos mais significativos, de fato 80% dos entrevistados chegavam a aceitar atĆ© 23% menos em remuneraĆ§Ć£o para realizar um trabalho mais significativo. O que significa que o propĆ³sito Ć© um driver tĆ£o poderoso que as pessoas aceitariam atĆ© mesmo ganhar menos, para te-lo.

Mas ai Ć© que estĆ” o truque, nĆ£o Ć© porque a pessoa aceitaria receber menos que deve-se pagar menos, esse driver nĆ£o funciona se a remuneraĆ§Ć£o nĆ£o for compatĆ­vel com a condiĆ§Ć£o social da pessoa, e a razĆ£o disso jĆ” foi explicada hĆ” muito tempo com a pirĆ¢mide de necessidades Maslow, que basicamente descobriu uma hierarquia entre as necessidades das pessoas, onde basicamente deve-se suprimir as necessidades da base, para depois trabalhar as necessidades do topo. Na parte de cima da pirĆ¢mide constam a realizaĆ§Ć£o pessoal, estima e necessidades sociais. JĆ” na base constam as necessidades de seguranƧa e fisiolĆ³gicas.



Assim por mais que tenhamos tĆ©cnicas que trabalhem a noĆ§Ć£o de propĆ³sito, de realizaĆ§Ć£o profissional, de estima e um ambiente acolhedor, se nĆ£o tivermos um time que se sinta seguro financeiramente, nossos esforƧos seriam em vĆ£o. EstarĆ­amos sendo injustos, falando de realizaĆ§Ć£o profissional, para pessoas que sequer conseguem manter sua vida com o dinheiro que recebem.


Afinal um trabalhador que sĆ³ consegue ser feliz durante o trabalho, e nĆ£o na sua vida pessoal, nĆ£o Ć© um trabalhador, mas sim um dependente. Trata-se de princĆ­pios. As pessoas podem atĆ© aceitar a baixa remuneraĆ§Ć£o, por depender dela, ou atĆ© mesmo por estarem em inĆ­cio ou transiĆ§Ć£o de carreira. Mas no longo prazo, assim que as necessidades e os planos de vida mudarem, muda tambĆ©m a satisfaĆ§Ć£o com o trabalho e a pessoa parte para uma melhor oportunidade.


Outra vertente do negĆ³cio que sofre com essa postura Ć© a inovaĆ§Ć£o, quanto menor sua remuneraĆ§Ć£o maior Ć© sua dependĆŖncia do emprego, quanto maior sua dependĆŖncia maior serĆ” seu receio de cometer erros, e se a organizaĆ§Ć£o nĆ£o tem espaƧo para errar, ela tambĆ©m nĆ£o tem espaƧo para inovar. Simples assim.


A remuneraĆ§Ć£o abaixo da mĆ©dia pode atĆ© ser uma necessidade do negĆ³cio durante um breve momento, mas fazer dela uma polĆ­tica empresarial Ć© sinal de baixa maturidade da organizaĆ§Ć£o. O resultado Ć© que enquanto foca-se em custos, os concorrentes encantam o cliente. No longo prazo Ć© uma estratĆ©gia que nĆ£o se mantem.


Joseph Pine fala de economia, mas seu modelo explica muito bem a maturidade de gestĆ£o. Se o seu resultado Ć© algo artesanal, provavelmente controla-se a disponibilidade, acredita-se que bater ponto Ć© o que trarĆ” resultado no final do mĆŖs. Se o resultado Ć© a quantidade de bens produzido, provavelmente a empresa preocupa-se com o custo das unidades produzidas, quanto menor os custos de produĆ§Ć£o, melhor para o negĆ³cio. Se o resultado Ć© um serviƧo, provavelmente preocupa-se com a qualidade dele, possui equipes revisando cada resultado entregue. Se o resultado Ć© experiĆŖncia, preocupa-se na criaĆ§Ć£o de experiĆŖncias cada vez mais autĆŖnticas.


Criar uma relaĆ§Ć£o autĆŖntica com o seu cliente envolve criar uma relaĆ§Ć£o autĆŖntica entre seu time, ambos estĆ£o intrinsicamente ligados, mais do que um membro com propĆ³sito, precisamos ter um membro que tambĆ©m se sinta seguro em seu trabalho, e que tenha suas necessidades bĆ”sicas atendidas, a partir dali que construĆ­mos as noƧƵes de necessidades sociais, estima e propĆ³sito. Por isso a relaĆ§Ć£o salĆ”rio vs qualidade de vida nĆ£o Ć© um trade-off, uma troca, Ć© na verdade um sinal de gestƵes com alta maturidade, que estĆ” preocupada em gerar a melhor experiĆŖncia para seus clientes e o fazem ao gerir a melhor experiĆŖncia para seus funcionĆ”rios.

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